Presentear é um gesto que precisa partir de uma vontade, mesmo partindo muitas vezes de uma obrigação de datas artificiais inventadas pelo capitalismo para nos fazer consumir desenfreadamente.
A palavra presente, em nosso português brasileiro é um fenômeno semântico demais interessante, denota o tempo em que ocorre a ação, nesse sentido conceito importantíssimo para análises linguística e textuais, afinal o tempo é um organizador de sentido.
Também utilizamos como um sinônimo de benção, graça alcançada por merecimento ou por generosidade divina. E, logico, o sentido que nos importa, um objeto dado gratuitamente, mas nem sempre de forma gratuita, para uma outra pessoa, geralmente alguém que estimamos, a quem temos grande afeto ou alguém com quem desejamos construir algum afeto.
No português brasileiro uma palavra com diversos sentidos nem sempre nega seus outros sentidos excludentes, muitas vezes o agregam. Um presente é sempre uma vontade de instalar o tempo presente através de um objeto e instaurar uma aura divina entre as duas pessoas as quais um presente conecta.
A linguagem é mesmo um presente (dádiva). Deve ser por isso que um dos presentes mais úteis é um livro de poemas. Ofertar um livro de poemas é um gesto metalinguístico, generoso e útil. Quando o presenteado(a) abre o livro de poemas que ganhou pode ter a chance de se olhar num espelho, ver além de si e, ainda por cima, encontrar aquela pessoa que a presenteou. É fantástico.
Fica uma dica: quer dar um bom presente, dê um livro de poemas, mas o leia antes, leia muitos livros de poemas antes, assim as chances de você escolher o livro de poemas mais útil se tornarão ainda maiores, mesmo a poesia sendo sempre essa inutilidade que nos é essencial.