O que pode um garoto feito eu, nascido do resultado comum da violência dos brancos que estupraram mulheres indígenas e geraram toda uma cidade com crise de identidade. Sem sobrenome que esconda moinhos de vento, indústria de aço, shopping centers ou coisas que o valha, educado pela música, histórias e conversas de calçadas, posso dizer que Fortaleza sou eu.
Tenho amor por minha cidade de lagoas, de sol e de muriçocas. Por isso a escrevi e a escrevo todos os dias. Nos meus poemas gosto de falar dos bairros mais distantes, Conjunto Ceará, José Walter, Messejana, Genibaú, suspeito eu mesmo ser um bairro distante batendo na porta para aperriar os aldeoters que vez ou outra ainda dizem: - Esse meino aí saiu de onde?!
Saí da curiosidade e inteligência do meu avô negro, da minha avó indígena, saí da Maraponga e do Curió. E, ao sair levei tantas outras pessoas comigo e ainda levo, pois amar a cidade para mim é tentar mostrar pros Barões, sejam eles os de Sobral ou de Aracati que quem constrói de verdade esta cidade somos nós, os foragidos da seca, os curumins aldeados.
Fortaleza Is Burning, que continue queimando e alimentando os sonhos dessas meninas, desses meninos cheios de ousadia, de maluvidisse, que não baixam a cabeça para os Fonteneles, os Magalhães, os Jeireissatis, os Aciolis e todos os outros de quem lavamos as roupas, limpamos as casas e remendamos os desastres.
Parabéns também para Fortaleza sem mar, para Fortaleza detrás da cerca, debaixo do Lixão, da Beira do Córrego do ao redor da Lagoa, nós te amamos e te transformamos.
maluvido, taí uma palavra que não ouvia há anos...
Que lindo