Nada mais eficiente para o entretenimento do que o maniqueísmo. Bem e mal em polos oposto é um prato cheio para o consumo rápido e em massa de narrativas confortáveis, pois uma das ferramentas da fruição é que o texto disponha de elementos facilmente reconhecíveis para a fruição tornar-se mais simples, sem grande esforços. Não é à toa que as crianças amam os contos cumulativos (aqueles que possuem um base que se repete, ao estilo do “estava a velha em seu lugar…)
Somos também um pouco crianças, por isso que quando chegamos em casa cansados , ou estamos folgando em um domingo de sol, vamos em busca dos tais “filmes conforto”, aqueles cujo narrativas são simples, maniqueístas, que não exige muito esforço interpretativo.
Uma boa escritora que produz narrativas para grandes públicos possui o desafio de mesclar elementos comuns de fácil reconhecimento, logo uma boa dose de maniqueísmo, com pequenas inovações ou do espírito do seu tempo. A autora Manuela Dias tem feito isso muito bem na novela Vale Tudo.
Versão de um grande sucesso, a novela inicia com um desafio complicado, atualizar tudo que deu certo para um público parte que acompanhou a primeira versão, parte que nunca viu a novela. Uma nova versão de qualquer texto trará em seu bojo a comparação e dividirá opiniões, isso é muito natural.
Acontece que alguns analistas aproveitando-se de um público mais hipócrita e conservador do que à época da primeira exibição destila lugares comuns em suas análises, algumas preenchida de racismo desfaçado de opinião e “conhecimento técnico”. Já li por aí ataques terríveis a atores como Thaís Araújo e Bella Campos, quando essas fazem um bom trabalho e são exatamente o que propõe a autora da novela, personagens de seu tempo.
Manuela Dias inova ao quebrar o maniqueísmo ao oferecer personagens de tão boa índole que nos irrita e vilãs tão demasiadamente humanas que acabamos por nos identificar com elas. Ora, não é o Brasil de hoje que endeusa as piores figuras que já passaram pela face da terra como o nefasto ex-presidente ou o influenciador que explora ao máximo a dor dos outros para ficar cada vez mais rico?
Somos o Brasil que a autora de Vale Tudo expõe, nesse sentido ela é extremamente fiel ao espírito da versão original que tinha a música de Cazuza pedindo em sua abertura “Brasil, mostra tua cara”. Manuela tem mostrado a cara do Brasil, talvez esse seja o grande incomodo coletivo.
Tomara que a rede globo segure a barra e deixe a autora e os atores continuarem a fazer o bom trabalho que fazem e não caia nas graças do pseudo algoritmo que é a “opinião pública”, que tem se mostrado tão rasa e preguiçosa no seu esforço interpretativo.
como fã da primeira versão, eu virei fã também da segunda. manuela, thais, bella, odete!!!!! ❤️
Mais um excelente texto, querido. Grata!